Novos Problemas Com Insetos Praga
As pragas voltaram a causar preocupação maior na agricultura depois da ocorrência de espécies novas, da proibição de alguns agroquímicos e do lançamento de plantas geneticamente modificadas, combinado com as deficiências na identificação correta dos insetos e a falta de estudos para determinar a ocorrência de populações resistentes a inseticidas.
As lagartas tornaram-se novo tormento para os produtores de soja no Brasil e nos países do Cone Sul. Novas espécies causaram danos severos e os agricultores encontraram dificuldades no controle com os inseticidas e doses consideradas eficientes para as lagartas conhecidas em soja. A falta de taxonomistas, para a identificação de pragas e de inimigos naturais
É uma evidência no Brasil, mostrando a necessidade de maior investimento na pesquisa. Além da identificação de espécies, o monitoramento de populações resistentes a inseticidas é uma necessidade para a adoção de boas práticas agrícolas, atendendo as demandas do mercado para a rastreabilidade de grãos de soja.
Identificação a lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis, continua sendo a praga mais frequente e de distribuição generalizada. A lagarta falsa-medideira, Chrysodeixis (Pseudoplusia) includens, teve ocorrência esporádica no passado e agora está entre as pragas principais em soja. Foi registrada com maior frequência e com populações resistentes a inseticidas, na Argentina e no Brasil.
Uso excessivo de agrotóxicos torna as pragas das lavouras mais resistentes
Um assunto que tem gerado muita preocupação entre pesquisadores e agricultores: está ficando difícil controlar as pragas, doenças e plantas invasoras. O uso excessivo e errado de agrotóxicos e plantas transgênicas faz surgir organismos cada vez mais resistentes. E a dificuldade de combater esses organismos, que resistem aos remédios e venenos disponíveis no mercado.
Leva a situações alarmantes. Uma ala inteira de um hospital já chegou a ser isolada, por causa de uma superbactéria. E uma área inteira de lavoura já esteve em vazio sanitário, até o próximo plantio.A resistência acontece da seguinte maneira: vamos supor que em uma lavoura de soja, exista uma infestação de percevejos. O agricultor vai entrar com uma pulverização de inseticida.
A maioria dos percevejos vai morrer. Mas existem entre eles, alguns que são diferentes. Eles têm, lá no seu DNA, o gene da resistência. Esses, vão sobreviver. Depois de várias e várias pulverizações e com a reprodução desses insetos, aqueles percevejos que eram diferentes, passam a ser maioria e aí o produto não vai mais funcionar.Isso acontece com insetos, fungos, bactérias e plantas.
invasoras em diversas culturas. E foi o que ocorreu em uma lavoura em Marília, interior de São Paulo. Seu Célio Tomazinho tentou controlar a praga, aplicou inseticida, mas não teve o resultado esperado: “Antes, qualquer cheiro de produto que você passava, tinha um controle fácil. Hoje, você tem produtos caros e não consegue eficiência na lavoura”.
Com a praga fora de controle, ele decidiu abandonar a área: “Essa área tá perdida, 100%. Numa área dessa, de 50 hectares, você pode pensar nuns R$ 90 mil perdidos”.O excesso de produtos químicos é uma das razões da seleção de organismos resistentes. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (SINDIVEG), dos US$ 54,6 bilhões vendidos em agrotóxicos.
No mundo, em 2015, o Brasil consumiu sozinho US$ 9,6 bilhões. O número representa 17,5% do consumo mundial.Mais da metade desses produtos, quase 52%, são usados na cultura da soja. O agrônomo Adeney de Freitas Bueno pesquisa a resistência em insetos e defende esse percentual poderia ser bem menor: “O Brasil hoje poderia reduzir, na cultura da soja, em média 50%.
Do uso de inseticida, sem perder em produtividade”.No caso da soja, é o percevejo que traz mais problemas. Adeney explica que a falta de variedade de meios de combate à praga, torna o problema ainda maior: “Pelo pouco número de inseticidas disponíveis no mercado, dificulta para o produtor fazer a rotação com diferentes mecanismos de ação. Ele, muitas vezes, acaba.
Abusando do uso desses produtos e usando demais, seleciona os insetos resistentes. Os inseticidas utilizados, que se deveria ter a média de controle de 90%, talvez até mais, não passa de 60% ou 70%, no máximo”.Variar o inseticida e aplicar menos. Essas duas regras fazem parte do MIP – o Manejo Integrado de Pragas. O MIP existe há muitos anos e consiste em medidas que o produtor.
Deve tomar para monitoramento da lavoura. A partir deste monitoramento, que analisa a quantidade de insetos encontrados por amostragem, é possível determinar se é necessária a pulverização do inseticida.O agrônomo Nelson Harger, da EMATER/PR explica as vantagens: “O Paraná utiliza, em média 4,8 aplicações. Nas áreas monitoradas, apenas 2,3 aplicações. Então há uma redução.
Pelo menos pela metade da necessidade de inseticida. Se o estado do Paraná inteiro, nos mais 5 milhões de hectares, tivesse aplicado o MIP, nós teríamos uma economia de cerca de cerca de R$ 1 bilhão no controle de pragas”.Seu João Nazima é agricultor antigo. Sabe da existência do MIP, mas abriu mão de usar o pano de batida. Prefere confiar em sua própria experiência: “Pela experiência.
De vários anos praticamente num usa pano”. Ele diz que até agora não observou nenhum resistência. “O percevejo, eu não vejo resistência nenhuma. Se faz a aplicação, tem efeito”.Ele planta soja BT, a soja transgênica, que possui em seu DNA, o gene do Bacillus Thuringiensis, um inimigo natural da lagarta da soja.Segundo o agrônomo Adeney, isso aumenta o risco de selecionar insetos resistentes.
Pois é como se tivesse o inseticida o tempo todo: 24 horas por dia, 7 dias por semana.Como prevenção, o agricultor que planta soja BT, tem a recomendação de plantar 20% de soja convencional, numa área chamada de refúgio. O seu João Nazima conta que já faz isso, mas não tem certeza se é a maneira correta: “Talvez não seja o ideal, mas eu peguei a área total de plantio e uns 20%
Do total plantei num lugar só [a soja convencional]. Acho que não é o certo, mas tem os 20%”.O. correto seria plantar no mesmo talhão da soja transgênica, 20% de soja convencional. As duas variedades devem ser semeadas na mesma época e ter ciclos próximos. Assim, a área de soja convencional terá uma população de percevejos vulneráveis à tecnologia BT, que vão cruzar.
Com os percevejos resistentes da área de soja transgênica, gerando lagartas sucetíveis, que serão controladas.O resultado da tecnologia mal utilizada começa a surgir na lavoura do seu João, onde lagartas mais resistentes já estão aparecendo: “A gente já tem observado isso daí. Então, mesmo sendo BT, a gente faz pelo menos uma aplicação de inseticida pra controlar a lagarta”.