O Mosquito Transgênico: Cuidados e Medidas Preventivas
A dengue é um grave problema de saúde pública muito conhecido pelos brasileiros. Todos os anos os casos registrados da doença são elevados e preocupam a população e as autoridades. Somente nos primeiros meses de 2014, o Brasil registrou 659.051 casos de dengue, segundo o Ministério da Saúde.
A doença, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti e causada por um vírus do gênero Flavivirus, causa febre alta, dores no corpo, dor de cabeça e manchas e erupções na pele. Vale destacar que existem formas diferentes da doença e, em alguns casos, dependendo da forma, podem ocorrer quadros hemorrágicos graves.
Apesar da luta constante das autoridades e da própria população, a dengue é uma doença bastante difícil de controlar. Entretanto, uma nova arma de luta contra ela pode estar surgindo em nosso país: o mosquito-da-dengue transgênico.
O Aedes aegypti modificado é um método de controle biológico que pretende diminuir a quantidade de mosquitos em nosso país.A técnica consiste na liberação de mosquitos machos (que não são capazes de transmitir a doença, pois não picam os humanos) que possuem um gene letal em seu corpo.
Ao acasalarem-se com as fêmeas, os machos passam esse gene aos filhotes, que não conseguem chegar até a fase adulta. Com isso, a população de mosquitos tende a diminuir.Esses insetos modificados são criados pela injeção de uma porção de DNA quando eles ainda estão na fase de ovo.
Foi inaugurada em 2014 a primeira fábrica da empresa britânica Oxitex que produz Aedes aegypti transgênico. Apesar da produção e de testes serem permitidos, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ainda não liberou a comercialização dos mosquitos.
Testes já foram realizados em dois municípios da Bahia e obtiveram ótimos resultados, com redução de mais de 80% do número de mosquitos vivos no ambiente. Essa redução significativa pode indicar que uma nova e eficiente arma contra a dengue está próxima de ser lançada.
Vale lembrar que enquanto essa nova arma não está disponível, você deve continuar fazendo a sua parte, evitando deixar água parada, colocando areia nos pratinhos dos vasos das plantas, tampando bem as caixas d’água, limpando as calhas e lajes e não deixando objetos que possam acumular água.
Ao lado do desenvolvimento de vacinas, a produção de mosquitos geneticamente modificados pode se tornar uma das armas mais eficientes para o enfrentamento das epidemias de dengue, chikungunya, zika e febre amarela.Machos transgênicos de Aedes aegypti, dotados de espermatozoides defeituosos.
Foram criados no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e poderão ser produzidos em escala-piloto ao longo do próximo ano.“Esses machos transgênicos procuram fêmeas selvagens onde quer que elas se encontrem – inclusive em locais inacessíveis à ação humana.
Devido ao defeito introduzido em seus espermatozoides, os ovos resultantes da cópula são inviáveis e isso contribui para a diminuição da população de Aedes aegypti”, disse Margareth Capurro, professora do ICB-USP e principal responsável pelo desenvolvimento desse mosquito modificado por transgenia.
A pesquisadora ressalva que o Aedes aegypti transgênico não deve ser entendido como estratégia exclusiva de combate, mas como parte de um controle integrado, que vai da educação da população ao desenvolvimento de vacinas, passando pela eliminação de potenciais criadouros (depósitos de lixo, plásticos, garrafas, pneus).
E pelo uso de larvicidas e inseticidas.“Esse mosquito é um produto brasileiro. Seu desenvolvimento teve financiamento da FAPESP e da Agência Internacional de Energia Atômica [organização autônoma no âmbito da ONU, Organização das Nações Unidas].
Por isso, em vez de ser apropriado por alguma empresa privada, com objetivo de lucro, ele deve ser distribuído gratuitamente pela ONU para os 44 países envolvidos no controle de mosquitos. Já argumentei, inclusive, que não cabe requerer patente.
Pois a tecnologia deve ser doada para qualquer país que a queira adotar”, disse Capurro.Segundo ela, foi concluída a fase 1 da pesquisa, com a produção do mosquito no campus da Universidade de São Paulo, em laboratório do ICB-USP.
Produção em escala-piloto
Cada ciclo de vida de mosquito leva 30 dias. Por isso, a fase 2, com a criação de várias gerações e as respectivas avaliações, precisará se estender por seis a oito meses, aproximadamente de setembro de 2018 a março/abril de 2019.Se tudo correr bem, na transição de 2019 para 2020, poderemos ingressar na fase 3.
Que será a produção do Aedes aegypti geneticamente modificado em escala-piloto, em quantidades de aproximadamente 500 mil indivíduos por semana.Nessa fase, o produto poderá receber ainda alguns ajustes. A etapa seguinte será a implementação da estratégia em grande escala.
Para isso, a biofábrica de Juazeiro já possui capacidade instalada para produzir 14 milhões de mosquitos transgênicos por semana.“Mas a produção em Juazeiro ou em outro lugar depende de várias considerações logísticas, que precisam contabilizar custos de produção, custos de transporte.
Contratação e treinamento de pessoal qualificado etc. Minha intenção é entregar a tecnologia pronta para o Ministério da Saúde e outros ministérios, para que, se houver interesse, seja criado um programa voltado para a implementação. Como o produto será entregue também à ONU.
CRIAÇÃO
– Usando uma agulha microscópica, cientistas injetam dois genes em ovos do Aedes aegypti;
– O gene DsRed2 serve para identificar as larvas transgênicas (pois as faz brilhar se expostas a uma luz especial);
– O outro se chama tTAV. É a bomba-relógio que vai matar o mosquito (mais sobre isso daqui a pouco); – Os ovos chocam, e os mosquitos transgênicos nascem. Sua espécie é batizada de OX513A.
PROCRIAÇÃO
– Os mosquitos são mantidos em gaiolas, onde se reproduzem. Os machos fazem sexo com as fêmeas;
– Os ovos são colocados em bandejas com o antibiótico tetraciclina – que inibe a ação do gene tTAV;
– Após oito dias, os insetos nascem. Primeiro viram larvas, depois pupas.
SEPARAÇÃO
– As pupas são colocadas num aparelho especial, que é coberto por microfuros;
– Machos: são menores que as fêmeas – e, por isso, só eles conseguem passar pelos furinhos;
– Fêmeas: ficam presas. Algumas são resgatadas e usadas para reprodução, mas a maioria é morta (é a fêmea que passa dengue).
LIBERTAÇÃO
– Os machos são criados em gaiolas até ficarem adultos. Agora é hora de soltá-los;
– Os mosquitos são liberados em vários pontos da cidade. É preciso liberar muitos deles;
– Numa cidade de 10 mil habitantes, 2 milhões de mosquitos por semana, durante quatro meses.
ACASALAMENTO
– O local fica cheio de mosquitos transgênicos. Por isso, eles acasalam com todas as fêmeas.
FILHOTE E MORTE
– As fêmeas engravidam, e colocam ovos;
– Mas aqui na natureza, diferentemente do que acontece no laboratório, não há tetraciclina;
– Por isso, o gene tTAV entra em ação. Ele faz as larvas morrerem;
– Ou seja: os mosquitos não conseguem gerar filhotes.
RESULTADO
– Como não há descendentes, a população de Aedes aegypti não é reposta, e vai sendo dizimada.